Entrevista: Ana Hinning, a garota da tatuagem











“Two girls... Come on up”


Por Lucas Wirti Rattova (@lucaswirti)

Chamar essa garota de “sortuda” seria quase um eufemismo. Aposto muitas fichas que depois do último domingo ela não ganha nem prêmio em bingo. Estamos falando de Ana Paula Hining, 18 anos, a catarinense de Florianópolis que junto com a gaúcha Elisa, conseguiram um autógrafo em seus braços esquerdos de ninguém mais que o ex-beatle, semideus do rock’n’roll, Sir Paul McCartney, no dia 7 de novembro, em Porto Alegre, onde iniciou a etapa sul-americana do tour “Up And Coming”, lotando o estádio Beira-Rio com 50 mil fãs de diversos lugares da América. Esbanjando simpatia e carisma, “Paul Macca” convidou para subir ao palco duas garotas, onde cedeu autógrafos, levando o público ao delírio. Passadas quase 120 horas após o dia mais feliz de sua vida, e com o devido braço já tatuado Ana Paula conversou com Lucas Wirti Rattova, repórter da Cabaret, por Live Messenger.

Ana, quantos anos e o que tu faz em Floripa?
18 anos, estudo historia na UFSC.

Alguma ligação com a música ou apenas curte?
Apenas curte é muito vago. A música tem uma importância enorme na minha vida. Eu encaro música de uma forma diferente sabe, não é só um som, tem muita coisa por trás disso.

Estilo de vida quem sabe?
Exatamente.

E como foi o teu primeiro contato com os Beatles?
Não me lembro... Eles são muito conhecidos, então desde pequena eu tinha contato com isso, mas nada de ser fã sabe, só de gostar de ouvir por ouvir. Quando eu comecei a gostar de música de verdade, a ter isso como um estilo de vida, eu comecei a gostar de verdade de Beatles, e dai fui me aprofundando e eles se tornaram parte da minha vida. Eu devo parte de quem eu sou a eles

No que tu mais te identificas com a música do Paul? Seja nos Beatles ou não...
Não tenho como saber o que é mais. É difícil porque pra mim não é só a musica também, sabe? É a vida dele, o ativismo... Tudo tem muito a ver comigo. É estranho que ele, e os Beatles têm algo mágico assim. Não consigo perceber tudo o que me encanta tanto neles, mas sei que é algo mágico, mudou a minha vida, muda o meu dia quando eu ouço.

Tu falaste em ativismo... Vegetariana também?
Sim, sou vegetariana.

E como foi a odisséia toda até o show?
Foi demais, porque eu tinha perdido as esperanças de que ele viesse pro Brasil. Eu viajei sozinha pra Porto Alegre na pré-venda de ingressos, me associei ao Inter, dormi na fila, fiz amigos, e consegui comprar pra mim e pros meus amigos aqui de Floripa. E ai desde que eu voltei foi Paul e Beatles intensamente na minha vida, não conseguia estudar nem fazer nada, é uma ansiedade enorme. Na hora de ir pra Porto Alegre, fui com mais dois amigos, saímos daqui terça a noite, chegamos quarta de manha, e fomos pra fila quinta lá pelas 17h e fomos os primeiros a chegar, junto com a outra menina que ganhou o autografo (foi aí que a conheci, não éramos amigas). E daí foi assim, ficamos lá acampados, nosso grupo era demais, umas 20/30 pessoas, todos muuuito legais, que eu já to sentindo muita saudade por sinal.

Como funcionava a rotina de vocês na fila... Tipo, onde comiam, o que comiam, banho essas coisas? Afinal quatro na fila é algo incrível...
A gente revezava, mas passava a maior parte do tempo na fila, saiamos pra tomar banho e descansar um pouco em casa... Comer variava, a gente levava coisas pra lá, os pais dos nossos amigos levavam lanches e todo mundo dividia, viramos uma família.

E de onde saiu a ideia do cartaz? Aliás, brilhante.
Então, foi assim, eu pensava em algo que me desse a possibilidade de ter contato com o Paul, mas isso era tão utópico pra mim, que eu meio que deixei pra lá. Daí eu vi um vídeo no You Tube de uma menina que fez isso, e conseguiu, dai eu resolvi copiar a ideia, até porque há tempos eu queria uma tatuagem dos Beatles, só não sabia o que eu ia fazer.

Na hora, deu tempo de pensar onde seria a tatuagem ou foi meio no impulso mesmo?
Eu já tinha pensado, mesmo não acreditando muito que ia dar certo, eu tinha pensado em tudo.

Ok... Agora eu quero saber uma coisa... O que passou pela tua cabeça quando ele chamou você e a Elisa?
Não deu tempo de pensar, só deu tempo de começar a gritar para os seguranças que estavam ali me procurando e de tentar passar a grade porque na hora eu tava muito atordoada, o Paul já tinha feito sinal para o meu amigo que tava atrás de mim, que ia me chamar, e daí ele me cutucou e começou a falar ''ELE VAI TE CHAMAR!''. Eu não acreditei. Começou aquele auê de seguranças na minha frente, e eu só ouço o Paul falar ''... SIGN... ''. Daí eu percebi que era comigo e parece que eu entrei em transe assim.

Tu conseguiste falar alguma coisa para ele, no momento do abraço?
Siiim... Incrivelmente eu consegui falar em inglês no nervosismo.

Podemos ficar sabendo o que foi?
Aham. ''Obrigada por ser meu melhor amigo, obrigada por existir e obrigada pelo melhor dia da minha vida''. Em inglês, é claro.

Ele retribuiu?
Eu tava tão atordoada que não sei se sonhei, mas tenho a impressão de ele ter dito ''ohh thank you''.

[Risos]... Momento constrangedor... Tu foste vaiada por alguns imbecis... Rolou uma mágoa?
[Risos] Não. Eu não ouvi nada lá de cima.

Nem um pouquinho? Eu sou gaúcho e fiquei bastante indignado...
Nem um pouco. E me desculpa, mas quem, no palco com Paul McCartney iria ligar para as vaias?

É verdade... Ainda mais com o Paul rebatendo... "What's wrong with Florianopolis? I'm from Liverpool...”. Achei o máximo.
Só pra tu teres ideia, eu nem ouvi o Paul retrucar. Só entendi o Liverpool. Eu tava em outro mundo mesmo.

Uau...
Ainda to. [risos]

Bom, parte final da entrevista... Como foi o assédio assim que tu deixaste o palco? Outra coisa conseguiu curtir o resto do show?
Eu perdi as duas ultimas músicas, porque não podia voltar pro lugar, e eu não tinha condições, foi demais o assédio, e até desrespeitoso por parte da imprensa, achei. Eu só queria sentar e chorar sabe?

Sério? Explica-me isso.
Eu queria olhar para o meu braço e ficar sozinha, mas os repórteres entraram ali pra frente da grade e começaram a perguntar, tirar fotos, me enfiavam telefones pra eu falar com repórteres. Sei lá, não consegui comemorar do jeito que queria, sabe?

Tu saíste nos principais meios de comunicação do país... E alguns do exterior... Isso mexeu de alguma forma contigo?
Do exterior nem fiquei sabendo.

Foi comentado em sites da Argentina que o Paul tinha chamado fãs para o palco.
Ah, na verdade mesmo, não muda nada na minha vida isso, pra falar a verdade eu detesto aparecer, fiz isso mesmo pelas pessoas que como eu, são fãs e querem saber como foi que tudo aconteceu, se fosse com outra pessoa eu ia querer ver noticias, fotos, entrevistas e etc., então acho que é mais por isso mesmo.

E a família, amigos, colega, etc... Como foi a reação deles?
Meus pais ficaram bem felizes e orgulhosos. Meu pai tinha ate conversado comigo antes pra eu não botar muita fé e não me decepcionar, ele não acreditou quando eu contei, ele chegou a chorar [risos]. Meus amigos eu conto como aqueles que estavam comigo na fila. Eles ficaram extremamente felizes, choraram quando eu subi, e foram por causa deles que eu consegui, eles que me faziam insistir e levantar o cartaz.

Mantém contato com eles ainda?
Sim. Vai ser pro resto da vida. Já estamos combinando de viajar e tudo o mais.

O que aconteceu entre o autógrafo e a hora de fazer a tatuagem? Como foi o processo todo?
Eu não deixei ninguém encostar [risos], dormir foi quase impossível, primeiro porque eu estava eufórica demais, e outra porque tinha que cuidar do braço. Dormi num colchão no chão, e o meu braço ficou estendido no chão mesmo pra não borrar. No banho também não lavei o braço. No ônibus também nem pude sonhar em dormir [risos].

Quando foi que tu fizeste a tatuagem? O tatuador estava sabendo do acontecido? Alguém foi contigo? A imprensa catarinense deu importância para o fato?
Eu fiz assim que cheguei. Fui direto da rodoviária. O tatuador abriu especialmente pra mim (eram 23h) e ele sabia, eu tinha ligado e explicado o que tinha acontecido. O DC (Diário Catarinense) acompanhou.

Bah, que bacana... Ana, eu até hoje to com febre do Paul por causa desse show... Então fico imaginando como você deve estar...
Nem me fala. Eu não voltei para o mundo real, sabe? Não fui à aula ainda. Nada...

Quero te agradecer pela atenção e pela simpatia... Sério, quando entrei em contato contigo, pensei "ela deve estar se achando pra caralho... não vai nem me responder..." e foi totalmente o contrário... Parabéns novamente, e cuida pra não perder esse braço, por favor, (humor negro rules)... Tem mais alguma coisa que tu gostarias falar?
[Risos] Não, imagina. To tentando responder todo mundo da melhor forma possível.

Tenho certeza disso...
E meu braço pode deixar, vai comigo pro caixão desse jeito que tá. [risos]